sábado, 11 de agosto de 2012

Um silêncio que nos chama para mais perto da vida.

"Em torno dos que nos morrem, há um silêncio que nos chama para mais perto da Vida. Dá-nos a ouvir coisas que não sabíamos ou tínhamos esquecido.
A memória guarda o que foi bom daqueles que nos morrem, o que deles foi dom para nós e para os outros. Contemplando-os, descobrimos mais lúcida e aumentada a nossa capacidade de compreensão e de perdão.
Apenas os mil gestos da ternura importam afinal. E dizemos, baixinho, muito gratos: “Bem-hajas!”
Sem que eles o queiram, o desarmado silêncio dos que nos morrem chama-nos a depor no santuário íntimo da consciência. É assim este mistério maior do que a morte: a quem ama parece sempre pouco o muito que dá. Por isso, mais do que de impotência, a morte fala-nos de imperfeição, de incapacidade, de fragilidade. Os que nos morrem ensinam-nos, no mais fundo de nós, a compaixão.
A morte não retira seriedade à vida. Ao contrário:
– ela relativiza as grandes coisas, o poder, o dinheiro ou os grandes êxitos proclamados ao som de trombetas;
– ela desperta-nos para essas pequeninas e invisíveis forças do amor humano que atuam de pessoa para pessoa, que rompem pelas fendas do mundo como finíssimas raízes ou minúsculas gotas de água e fazem em mil pedaços os mais pesados monumentos do orgulho;
– ela responsabiliza-nos por cada palavra e gesto, por cada uma das nossas escolhas e prioridades.
A morte é sempre uma pergunta sobre o amor que fomos capazes de gerar."